23 de out. de 2014

Teste do Peugeot 2008

Teste do Peugeot 2008

A PSA definiu com clareza o espaço que cada uma de suas marcas vai ocupar no mercado mundial. Neste desenho, coube à Peugeot autar em amplo espectro, mas com refinamento. E o utilitário compacto 2008 está bem adequado a esse perfil. O modelo entrou na linha da fabricante francesa com duas funções: herdar os consumidores mais familiares do Peugeot 207 SW e atrair os mais jovens, pelo apelo aventureiro. No Brasil, onde o modelo já está em pré-produção em Porto Real, no Sul Fluminense, terá uma função um pouco diferente. A marca vai tentar temperar com uma dose de robustez a imagem elegante que tem por aqui. A partir do dia 30 de outubro, o 2008 será a grande estrela do estande da montadora no Salão do Automóvel de São Paulo, no Anhembi, numa espécie de preparação para o lançamento no mercado, que deve acontecer ainda no primeiro trimestre de 2015.

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A intenção da Peugeot não é disputar a liderança com o Ford EcoSport ou o Renault Duster, mas ser uma alternativa um pouco mais luxuosa e exclusiva – exatamente como ocorre com o hatch 208 em relação à maioria dos compactos do mercado. E, de fato, se a Peugeot não fizer alterações fortes, que mudem algumas características básicas do 2008, não há mesmo outra vocação para o crossover. A versão francesa, produzida na fábrica de Mulhouse, na Alsácia, fronteira com Alemanha e com a Áustria, oferece um ambiente sofisticadamente trabalhado. Mesmo as versões mais simples, que usam materiais menos nobres no revestimento – sem couro ou alcântara –, trazem os sinais dessa intenção da Peugeot de atuar em um segmento levemente superior ao de outras marcas generalistas. Um mercado que na Europa é ocupado pela Volkswagen. Mas enquanto a fabricante alemã se vale de uma imagem tecnológica para se diferenciar, a Peugeot aposta no refinamento de formas e materiais. O habitáculo do 2008 utiliza a mesma solução ergonômica do hatch 208 – já aplicada também no hatch médio 308 lançado recentemente na França. Os instrumentos e a tela do sistema multimídia sobem para que fiquem na altura dos olhos do motorista e ele pouco tenha de desviar sua atenção do trânsito. Mais que uma solução que beneficia a segurança, esta arrumação gera uma posição de dirigir bastante agradável. Por causa de sua altura avantajada, o volante no 2008 nem fica tão baixo quanto no hatch e o quadro de instrumentos não precisa ficar muito espremido entre o arco do volante e a base do para-brisas.

Por aqui, o modelo vai receber as mesmas motorizações disponíveis para o 208. Na base, o motor 1.5 8V – na verdade, 1.449 cc –, com 93 cv. O outro é o 1.6 16V, com rendimento semelhante ao usado nas versões de topo na França. Ele tem 122 cv. Na Europa, ele dispõe de duas motorizações a gasolina – 1.2 de 82 cv e 1.6 16V de 120 – e três a diesel – 1.4 de 68 cv e duas 1.6, uma de 92 cv e outra de 115 cv. Para o 2008, o mais provável é que a Peugeot mantenha a relação de preços que adota no 208, mas em um patamar superior em torno de 20%. Ou seja, modelo básico sairia pouco acima de R$ 52 mil e bateria os R$ 70 mil nas versões mais completas. O 2008 já vendeu em todo mundo cerca de 200 mil unidades, desde seu lançamento, há 18 meses. A expectativa da marca é que o Brasil incremente estes números em pelo menos 20%. algo em torno de 2 mil unidades mensais.

Ponto a ponto

Desempenho – O motor 1.6 16V da versão VTi, de 120 cv, é o mais forte da linha na Europa. Ele é bem dimensionado e dá bastante agilidade ao 2008, mas não transforma o pequeno crossover da Peugeot em um jipão feroz. No Brasil, o propulsor correspondente é também 1.6 16V, mas de 122 cv. O torque lá e aqui é o mesmo, de 16,4 kgfm, mas no francês aparece um pouquinho mais tarde: 4.250 contra 4 mil giros. A vantagem no VTi é o fato de ter um câmbio automático de cinco marchas. O bom escalonamento permite um ganho de velocidade progressivo e gera números de desempenho até bons: 9,5 segundos no zero a 100 km/h e máxima de 196 km/h, bem semelhantes aos obtidos pelo hatch 208 de topo. Nota 7. Estabilidade – A boa rigidez estrutural e o acerto “europeu” da suspensão, bem durinha, deixam o 2008 à vontade nas curvas, mesmo em velocidades mais elevadas. Apesar de ter 1,56 metro de altura, o crossover praticamente não rola e nas retas não exige correções de trajetória. A versão Feline dispunha de controle de estabilidade e também do Grip Control, ou controle de aderência, que limita o escorregamento do diferencial e é útil em terrenos de muito baixa aderência. Mas os sistemas são pouco invasivos e só entram em ação em casos extremos. Nota 9. Interatividade – Os comandos do 2008 repetem a lógica geográfica do 208, que instala o quadro de instrumentos no alto do tablier, para ser olhado sobre o volante – que, por sua vez, tem diâmetro pequeno. A tela “touch” de 7 polegadas fica também em posição elevada e facilita o acesso aos recursos de mídia, telefone ou GPS. Os bancos têm abas ressaltadas, que acomodam e seguram bem o corpo. A versão Feline contava com câmara de ré e park assist, que estaciona em vagas longitudinais, como as de rua, de modo semi-automático: o motorista precisa acelerar e frear. Nota 9.

Consumo – Nos mais de 500 km de testes por ruas e estradas francesas, o 2008 se saiu bastante bem nesse quesito. Mesmo sem ser poupado, como ocorreria em um teste de consumo, a média girou em torno de 14 km/l. Os números oficiais são obviamente melhores, com 13 km/l na cidade e 20,8 km/l na estrada, o que resulta em uma média de 16,9 km/l. São índices bem aceitáveis para os padrões europeus. No Brasil, com combustível miscigenado, os números devem despencar. Nota 8. Conforto – Apesar da suspensão firme, o 2008 compensa a suspensão firme com bancos bastante ergonômicos, muito espaço para pernas e cabeça e um ambiente requintado, valorizado ainda pelo teto solar panorâmico. O isolamento acústico também é eficiente. Nota 8. Tecnologia – A versão Feline traz tudo que o 2008 pode oferecer. E não é pouco. Além do sistema multimídia completo, com GPS, meia dúzia de airbags, controles dinâmicos – inclusive para facilitar a vida em terrenos sem aderência. Além de park assist e câmara de ré. O motor é a versão mais simples, aspirada, do THP, bastante conhecido no Brasil. A plataforma PF1 tem boa rigidez torcional, mas não é nova. É a mesma utilizada em todos os compactos do Grupo PSA, originalmente desenvolvida em 2002 e retrabalhada em 2009 – na segunda geração do Citroën C3. Com o 2008, ganhou uma sobrevida até, pelo menos, 2020. Nota 7.

Habitabilidade – A altura levemente ampliada do modelo facilita bastante o acesso ao interior, que por sua vez é bastante espaçoso. A não ser pelo porta-malas, que é apenas correto em condições normais, com 350 litros – até o teto e com a fileira traseira rebatida, acolhe quase 1.200 litros. Em torno dos passageiros e motorista, há um bom número de nichos e porta-trecos, como à frente da alavanca de câmbio, sob o apoio de braços, na base das portas. Ali é possível abrigar adequadamente objetos de uso cotidiano, como celular, óculos, envelopes, etc. Uma luz em led azul percorre toda a borda do teto panorâmico e dá um toque de requinte ao habitáculo. Nota 9. Acabamento – O acabamento segue a tradição de alto nível dos modelos Peugeot. A versão em questão é a Feline Cuivre, que normalmente, não existe com a motorização a gasolina. O nome é dado em função dos apliques em cor de cobre no volante, nas portas, no console e no painel. O tablier é revestido em couro marrom pespontado e os bancos são revestidos em couro e alcântara, também marrons. O ambiente ainda é valorizado por detalhes em alumínio, em cromado e molduras em preto brilhoso no monitor e nos instrumentos. Tudo com muito bom gosto e refinamento, dificilmente encontrados em um compacto, mesmo de marcas premium. Nota 10Design – O estilo do 2008 segue a atual identidade da marca, que tenta fazer referências a olhos de felino apertados nos faróis a garras nas lanternas traseiras. A dianteira traz uma grade cromada, um tanto pequena para o tamanho do modelo. Os vincos bem marcados no capô e na linha de cintura dão um tom de robustez enquanto os volumes suavemente arredondados nas demais áreas dão um impressão de musculatura. O crossover da Peugeot tem linhas harmoniosas, mas a estética não impressiona. Falta alguma ousadia. Nota 8.
Custo/benefício – Na Europa, a Feline é a versão de topo e tem preço que confirma isso. Ele sai, sem os opcionais, por mais de 22 mil euros, algo como R$ 70 mil. No Brasil, caso receba um recheio semelhante, não custará menos. Aí bateria de frente com versões mais altas de Ford EcoSport, Renault Duster e Chevrolet Tracker, todos mais potente, embora bem menos refinados. Nota 6. Total – O Peugeot 2008 somou 81 pontos em 100 possíveis.

Impressões ao dirigir

Chantilly/França – A lógica de ocupação da cabine da Peugeot, que eleva os instrumentos à altura, foi inaugurada no hatch compacto 208 e replicada no hatch médio 308. Mas nunca esteve em melhor forma que no 2008. A maior altura do crossover permitiu que os instrumentos fossem um pouco maiores e que o volante ficasse em uma posição bem semelhante à tradicional. Mesmo assim, ele ainda é ligeiramente menor, o que tende a acender uma pulsão esportiva em quem o empunha. A estabilidade do modelo até se mostra capaz de sustentar uma certa agressividade, mas não o motor 1.6 16V de 120 cv.  O propulsor oferece acelerações uniformes e progressivas. Mas boa parte do mérito de cumprir um zero a 100 km/h abaixo dos 10 segundos é do câmbio automático de cinco marchas. Ele é um primor de suavidade e, mais que isso, mantém uma conversa muito bem afinada com o motor. Mesmo que o vigor do conjunto não seja capaz de impressionar ninguém, o 2008 é um carro agradável, inclusive para os demais ocupantes que não estão no comando. A vida a bordo no crossover da Peugeot está, de fato, em um nível mais elevado. Na versão topo Feline, o nível de acabamento é superior até ao de modelos compactos de marcas premium. Revestimento em alcântara e couro, luz de led em torno do teto panorâmico, mistura muitíssimo bem-dosada de materiais, isolamento acústico de boa qualidade. O teto elevado oferece um espaço interno generoso para joelhos, ombros e cabeça. A ergonomia dos bancos também é das melhores. Ele tem abas bem largas, para segurar bem o corpo nas curvas, e é macio o suficiente para compensar a rigidez da suspensão. Esse acerto, inclusive, responde à elevação da carroceria com sobras. Dinamicamente, o 2008 se comporta como se fosse um hatch.

Ficha Técnica

Peugeot 2008 Feline 1.6 16V

Motor: A gasolina, dianteiro, transversal, 1.598 cm³, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro com abertura variável na admissão. Injeção eletrônica multiponto e acelerador eletrônico.
Transmissão: Câmbio automático de cinco marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Oferece controle eletrônico antipatinagem.
Potência máxima: 120 cv a 6 mil rpm.
Aceleração 0-100 km/h: 9,5 segundos.
Velocidade máxima: 196 km/h.
Torque máximo: 16,4 kgfm a 4.250 rpm.
Diâmetro e curso: 77,0 mm x 85,8 mm.
Taxa de compressão: 11:1.
Suspensão: Dianteiro tipo McPherson e traseira com barra de torção.
Pneus: 205/50 R17.
Freios: A disco nas quatro rodas com ABS e EBD. 
Carroceria: SUV em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,16 metros de comprimento, 1,74 m de largura, 1,56 m de altura e 2,54 m de distância entre-eixos. Oferece airbags frontais, laterais e de cortina de série.
Peso: 1.155 kg em ordem de marcha.
Capacidade do porta-malas: 350 litros.
Tanque de combustível: 50 litros.
Produção: Mulhouse, França.
Lançamento mundial: 2013.
Itens de série: Ar-condicionado digital dual zone, trio elétrico, direção com assistência elétrica, ABS, EBD, airbags frontais, laterais e de cortina, barras no teto, faróis de neblina, central multimídia com tela sensível ao toque, leds de iluminação diurna, sensores de estacionamento, teto panorâmico.
Preço: 22.300 euros, aproximadamente R$ 70 mil.

Autor: Eduardo Rocha (Auto Press)
Fotos: Eduardo Rocha/Carta Z Notícias

Elegância sem frescura - Com o 2008, que está em linha no Brasil, Peugeot aposta no lado requintado dos utilitários compactos

Fonte: Salão do Carro
Categoria: Testes
Publicado em: 22 Oct 2014 11:20:00
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