8 de jul. de 2015

Gastos do governo com trabalhador para evitar demissões na indústria automotiva crescem mais de 70%

Gastos do governo com trabalhador para evitar demissões na indústria automotiva crescem mais de 70%



Mercedes-Benz em São Bernardo deu duas semanas de férias coletivas a todos os empregados do setor de produção Daniel Sobral/Futura Press/Estadão Conteúdo Responsável por 138,2 mil empregos no País, a indústria automotiva já tirou temporariamente mais de 25 mil funcionários das fábricas, só em 2015, para evitar demissões. Mesmo assim, em 19 meses, foram cortadas 20,5 mil vagas. Sem produção, as estratégias para tirar os funcionários da fábrica incluem férias coletivas, folgas e o layoff. Esse último é a suspensão temporária dos contratos de trabalho. Nos primeiros cinco meses, o governo paga parte do salário — com recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) — e a empresa complementa o resto. A exigência é que a pessoa frequente cursos oferecidos pelo Senai. A bolsa de qualificação é concedida somente nos casos de layoff. Houve aumento de 123% dos pedidos desse benefício em 2014, em relação ao ano anterior, segundo dados do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego). Os gastos do FAT com layoff saltaram de R$ 35,2 milhões, em 2013, para R$ 60,8 milhões, no ano passado: aumento de 72,7%. Se for necessária uma suspensão de contrato superior a cinco meses, a empresa arca com o pagamento integral dos funcionários depois desse período. Foi o caso da Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo, que colocou em layoff aproximadamente 800 trabalhadores há um ano. A montadora estendeu até setembro o layoff de 280 pessoas, que possuem garantia de emprego e também abriu um PDV (programa de demissão voluntária), em que oferecia R$ 55 mil ao colaborador que quisesse pedir as contas. A adesão foi baixa, o que levou a fabricante alemã a tomar uma medida radical: dispensou no dia 1º de junho mais de 300 trabalhadores que ainda estariam com os contratos suspensos até a próxima segunda-feira (15). O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, classificou como “agressiva” a atitude e agora aguarda que a decisão seja revertida, a exemplo do que aconteceu na Volkswagen no começo do ano. Um grupo de trabalhadores demitidos está acampado desde segunda-feira (8), em uma praça em frente à montadora. Mas os ventos que sopram do outro lado da rua não levam boas notícias ao acampamento. A Mercedes-Benz já anunciou após as demissões que ainda tem um excesso de 1.750 funcionários. Agora, o layoff virou um fantasma dentro da fábrica, segundo o diretor do sindicato, Régis de Sene, que também trabalha lá. — Em 2012, fizemos um acordo de layoff, porque a produção estava baixa. Mas o pessoal retornou depois. Hoje, o cenário está um pouco diferente. A empresa está usando o layoff para demitir. Isso estraga uma ferramenta boa que tem. Se já demitiram esses, quem agora vai querer ir para o layoff? A fábrica de caminhões e ônibus da Mercedes-Benz no ABC está parada. De 1º a 15 de junho, os trabalhadores da produção saíram de férias coletivas. Um empregado que não quis ter a identidade revelada alega que tem medo do que vai acontecer quando retornar do descanso. — É muito ruim trabalhar com um clima assim, achando que pode ser demitido. É algo que ninguém deseja. A gente já fez tanto pela empresa e esperava um pouco mais de reconhecimento. Anfavea revisa para baixo projeções para produção e vendas de veículos em 2015

Juciara (centro) e as colegas Marta Oliveira e Patrícia Carneiro, também foram demitidas da Mercedes Daia Oliver/R7 Impacto Os cinco meses recebendo benefício do governo para estudar durante o layoff também se tornaram um problema para os funcionários demitidos da Mercedes-Benz. O valor será descontado das parcelas do seguro-desemprego. Com isso, eles têm direito a apenas um mês. Há sete anos na Mercedes-Benz, Juciara Rodrigues de Oliveira, está entre os que receberam um telegrama informando da demissão. Apesar de saber das dificuldades do setor, ela lamenta. — O impacto é tanto financeiro quanto psicológico. Envolve toda a família. Mexe com o nosso ego, porque diante da sociedade a gente fica se sentindo excluído. Aqui todo mundo tem família. No meu caso, sou eu e minha mãe. Tem uns sobrinhos que a gente sustenta. Minha mãe mesmo falou para mim esses dias que não queria que eu perdesse esse emprego, porque ela sabe que eu sou braço direito dela. É complicado você se ver assim. O operador de máquina Antônio Carlos Valverdes classificou como “horrível” o ano que passou em casa recebendo salário. Para ele, esse período também acabou com um telegrama. Agora, pensa no que vai fazer da vida, já que emprego em montadora vai ser difícil.  — Creio que eu vá ter que procurar emprego, trabalhar com vendas em alguma coisa. Mas é aquela coisa, autônomo não tem muita garantia. 

Fonte: R7
Publicado em: 2015-06-12T23:29:07-03:00

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