Centenas de milhões de reais faturados às custas de um equipamento inútil, mas tornado obrigatório por força de um poderoso lobby Já comentei por aqui sobre o golpe do extintor. Confira no seu carro: se for do tipo BC, não importa a validade de cinco anos, pois terá que ser jogado no lixo e substituído por um ABC, obrigatório a partir de 1 de abril de 2015. Parece até piada pronta, e é. Isso porque o governo teve que voltar atrás. Sem dar a publicidade necessária em meios de comunicação em massa, a exigência prevista para o dia 1 de janeiro causou correria e sobrepreço. Resultado: o produto sumiu das prateleiras. A solução foi atrasar por 90 dias a implementação da medida, um remendo que está longe de ser raro na legislação automotiva, é só lembrar da novela dos freios ABS e airbags ou, pior, a interminável lenga-lenga do rastreador. E não é a única armadilha. Conforme já avisei, cuidado para não te empurrarem um BC bem barato, pois as lojas querem se livrar do estoque. Exija um ABC. Caso contrário, multa de R$ 127,69 e cinco pontos no prontuário. O comentário gerou criticas: alguns leitores entenderam que eu defendia o extintor no automóvel, mas foi apenas um alerta para ninguém cair no conto do vigário e levar outro do tipo BC, que só vale até abril de 2015. Extintor é uma aberração e não defendo sua obrigatoriedade no automóvel. Na verdade, só mesmo alguns países incoerentes e corruptos como o Brasil ainda exigem o extintor mesmo com a injeção eletrônica. Depois que ela eliminou carburador e distribuidor, uma dupla que até parece ter sido projetada para botar fogo no carro, são raros os incêndios em automóveis modernos. Fogo, só mesmo Kombis e Fuscas... Extintor sempre foi controvertido. Obrigatório desde 1968, o motorista dificilmente se lembra onde fica e tem dificuldade para operá-lo corretamente. Pior: raramente tem eficiência ao combater incêndio em automóveis. Sua exigência foi motivada por um poderoso lobby de fabricantes que pressionou o Contran para estabelecer sua obrigatoriedade. Outros países aboliram o extintor quando o carburador foi substituído pela injeção eletrônica. E o inacreditável: em vez de abolir o equipamento, a exigência agora é por outro mais caro e sofisticado. Há dez anos, não satisfeitos de encher as burras com o bilionário faturamento de milhões de extintores, seus fabricantes carregaram para Brasilia mais alguns “argumentos poderosos“ e conseguiram emplacar no Contran uma outra resolução, desta vez exigindo um novo modelo de extintor. E a lei mudou em 2005, começando pelos veículos zero km. Mas, até o final deste ano, todos os automóveis terão de substituir os extintores pelos do tipo ABC. Sentiu a mão entrando duas vezes no seu bolso? Depois de utilizado ou dos cinco anos de validade, o ABC não é reciclável nem recarregável e tem que ser descartado e substituído por outro novo. Pode? Fácil ganhar dinheiro com extintores no Brasil, não? É só multiplicar por R$ 50 (custo dele no mercado) as dezenas de milhões de veículos que ainda tem os antigos, mais os carros na linha de montagem e mais as substituições dos ABC vencidos, para se ter uma ideia de quantas centenas de milhões de reais são faturados às custas – como sempre – do indefeso cidadão brasileiro. Um incalculável faturamento originário de um equipamento que, de pouco eficiente na época do carburador, tornou-se quase inútil com a injeção eletrônica dos automóveis modernos.
Fonte: R7
Publicado em: 2015-01-09T16:58:00-02:00
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