Além dos 30 pontos adicionais no IPI, a valorização do dólar é pá de cal nos projetos dos importadores independentes A imprensa noticiou na semana passada os desarranjos sofridos pelos empresários brasileiros impactados pela desvalorização do real. Não atingiu apenas o andar de baixo, sacoleiras que ganhavam a vida buscando roupas e quinquilharias em Miami. Tumultuou também o piso superior, empresários que dependem, direta ou indiretamente, da cotação do dólar para seus negócios. Levam vantagem, eventualmente, os exportadores, principalmente de commodities. Noves fora os produtores de manufaturados que dependem de matéria prima importada para elaborar seus produtos. No caso da indústria automobilística, a desvalorização do real tem inúmeras implicações. Pode favorecer fábricas no Brasil com modelos que tenham receptividade em outros mercados. Mas nada acontece do dia para a noite. Não se exporta automóvel com a mesma facilidade que roupa, frango ou minério. Conquistar mercado de automóveis em outro país é operação complexa. Não basta encomendar pesquisa para avaliar as exigências do consumidor, concluir que seu produto tem condições de ser bem sucedido e carregar o navio na semana seguinte. A distribuição requer uma intrincada infra-estrutura, exige marketing específico, rede de concessionários, treinamento de vendedores e mecânicos. Adequar seus automóveis para a legislação local. Investir pesado no estoque de acessórios e peças de reposição, pois a qualidade do pós-venda é determinante para a fidelização do consumidor. Além disso, num país de economia instável como o nosso, o empresário teme as medidas do governo, as variações da moeda e regras do jogo. E se, depois de investir pesado para exportar, uma nova escorregada da presidente inviabilizar a operação? No caso do frango ou do minério, não é impossível desviar o navio de rota e baixar a mercadoria em outro porto. Com automóvel, o buraco é bem mais embaixo. E tem outro complicador, o famoso “Custo Brasil”. Não se trata apenas do fator cambial, mas pesam também a incidência de impostos e outros obstáculos financeiros e operacionais na exportação do nosso produto. Eu conversava recentemente com um diretor da Toyota no lançamento de uma nova geração do Corolla e perguntei sobre as perspectivas de exportação do modelo para países vizinhos. “Nem para o Chile”, ele comentou. E explicou que o custo para produzir o carro no Brasil é tão onerado por impostos, energia elétrica, transporte, encargos e tantos outros, que ainda é mais barato trazer o Corolla do Japão, mesmo pagando um frete caríssimo. E no bolso do brasileiro? O dólar valorizado vai eliminar, na prática, a saudável concorrência de importados mais baratos no mercado. Pois coloca uma pá de cal no planejamento de importadores independentes, já duramente castigados em 2011 pela Sra Dilma Rousseff com 30 pontos adicionais no IPI. Esta carga tributária adicional (e inconstitucional) já tinha reduzido as opções do mercado e deixou várias marcas importadas ainda mais distantes do consumidor. Agora, com a subida do dólar que vai – segundo tudo indica – se estabilizar num patamar superior depois de idas e vindas, o brasileiro vai novamente ficar nas mãos das montadoras. Marca sem fábrica no país terá vida dura daqui para frente. Mesmo os produzidos aqui com baixo índice de nacionalização ou os importados sofrerão elevação de preço. Exceção, como sempre, dos esportivos e sofisticados: a turma do topo da pirâmide continua levando seus brinquedos de luxo, qualquer que seja o valor do cheque.
Fonte: R7
Publicado em: 2015-03-21T12:03:00-03:00
Nenhum comentário:
Postar um comentário