16 de dez. de 2014

Desmonte do Peugeot 208: Evolução francesa

Desmonte do Peugeot 208: Evolução francesa

Maio de 2013. A concessionária Alpes faz uma entrega desastrosa do 208. O técnico disse que o primeiro abastecimento deveria completar o tanque e ser feito apenas com gasolina. Em seguida, reforçou que era obrigatória a realização da primeira revisão exclusivamente na Alpes. Mais tarde, contatamos o 0800 da Peugeot – que, claro, desmentiu tais informações. Esse primeiro contato nos levou a imaginar que nada havia mudado desde a passagem de outros dois Peugeot (307 em 2006 e 3008 em 2012) pelo Longa Duração. Ou seja, a rede continuava permissiva e descompromissada. Felizmente, os 60 000 km de convívio mostraram que, apesar da derrapada inicial e de alguns deslizes pelo meio do caminho, houve uma melhora. Bem calçados Logo de cara, percebemos que a Peugeot indica calibragens de pneus para três aplicações distintas: carro vazio (29 libras), carregado (33/36 libras) e redução de consumo (36 libras). Levamos o 208 para a pista e percorremos os nossos percursos urbano e rodoviário. Rodando tanto com 29 libras quanto com 36 libras, registramos média de 7,5 km/l na cidade. Na estrada, com 29 libras, média de 10,6 km/l e, com 36 libras, 11 km/l. Decidimos, então, adotar como padrão a calibragem para carro vazio. A medida indicada para redução de consumo não apresentou resultados significativos e ainda gerou uma perda acentuada do nível de conforto e dirigibilidade. Na época, registramos que o carro ficou duro e muito oscilante em alta velocidade. O ganho, definitivamente, não compensava a perda. A decisão não teve qualquer impacto negativo nos pneus. Com rodízio, alinhamento e balanceamento efetuados em cada revisão, o 208 chegou ao fim do teste com o conjunto original. Este, aliás, foi alvo da pior revisão do 208, aos 50 000 km, feita pela paulistana Paris-Morumbi, em São Paulo. Lá, além de dispensar um atendimento nada cordial, o consultor condenou os pneus e tentou empurrar um jogo (por R$ 2 016), alegando o fim de sua vida útil. Saímos de lá e, num revendedor autorizado Pirelli (fabricante dos pneus do 208), ouvimos do técnico exatamente o contrário: “Chegam até 60 000 km, pelo menos. E os quatro saem por R$ 1 450”. Com o restante do carro, o convívio foi tranquilo. A buzina apresentou problemas em duas ocasiões, mas foi trocada em garantia em ambas. Incômodo mesmo tivemos com a cobertura do teto. Bipartida, ela é mais fina do que o espaço reservado no trilho duplo. Assim, a trepidação de pisos irregulares faz com que ela vibre, transformando-se numa fonte de ruído perto dos ouvidos. Na primeira revisão, a autorizada Paris condenou o tampão do teto e devolveu o carro alegando ter feito a troca da peça. Mas de novidade só encontramos os amassados nos trilhos originais e a sujeira no forro do teto. Viagem de despedida Próximo do fim do teste, como de praxe, nosso consultor técnico, Fabio Fukuda, percorreu com o 208 as ruas próximas à Fukuda Motorcenter, a oficina onde são feitos os desmontes. “Assim, consigo dar atenção aos pontos anotados no diário de bordo pelos usuários ao longo dos 60 000 km. Além disso, tiro minhas impressões e coloco o motor em temperatura de trabalho, condição necessária para o início do processo de desmonte”, diz. Na oficina, o 208 começou a ser examinado. A pressão de óleo estava dentro do limite mínimo nas três condições aferidas: em rotação de marcha lenta, a 2 000 e a 4 000 rpm. “Nessa fase inicial, aproveito para fazer uma inspeção visual do motor. No 208, nada de plásticos trincados, borrachas secas ou vazamento de fluidos”, diz Fukuda. Ao verificar a pressão de compressão dos cilindros, tivemos problemas técnicos que nos impediram de realizar a medição. Mesmo assim, Fukuda se sente seguro para garantir que estava tudo bem. “A zona de assentamento de válvulas livre de carvão e os anéis de compressão dos pistões com folga dentro dos padrões da fábrica permitem concluir que não havia perda de pressão”, diz ele. Os primeiros sinais de fuga de pressão são a perda de performance e o aumento de consumo. Isso é exatamente o contrário do que aponta a comparação dos testes de pista feitos aos 1 000 e aos 60 000 km. No cabeçote, as válvulas de admissão apresentavam índice de carbonização de média intensidade. “Os retentores, ainda flexíveis, são inocentes. O culpado é o sistema de recirculação de vapor de óleo. Encontramos as paredes das galerias de admissão do cabeçote com traços evidentes, e acima da média, de lubrificante”, explica Fukuda. Um dos coxins mostrava estágio inicial de degradação da borracha. Não compromete a performance, mas pede atenção especial. Destaque negativo para a suspensão. Fato raro, encontramos dois amortecedores com sinais de vazamento. Para piorar, o desmonte revelou ainda uma bucha da bandeja esquerda com rompimento parcial. Os demais sistemas do 208 cumpriram bem sua função e chegaram aos 60 000 km em boas condições. O freio dianteiro, com pastilhas e discos trocados (estes, desnecessariamente) na quarta revisão, estavam, lógico, em estado de novos. O traseiro, sem manutenção durante o teste, também foi bem. A caixa de direção estava sem folgas, o que explica a atuação precisa e sem ruídos. Câmbio, acabamento e carroceria também estavam em perfeito estado. Fim da linha. Apesar dos percalços, o 208 e a rede Peugeot mostraram sinais de evolução. Eles são claros, como também é clara a necessidade de que ela continue em curso. APROVADO Passagem do Bloco

O desmonte do bloco do motor só trouxe boas notícias. Os pistões estavam com a cabeça com índice de carbonização compatível com a quilometragem. Os anéis de compressão estavam todos com folga de entrepontas dentro dos limites aceitos pela fábrica. No virabrequim, a medição de munhões, moentes e folga axial indicou números no centro da faixa de tolerância da Peugeot. Mais altos do que baixos

A retirada do painel e dos revestimentos do 208 mostrou que a proteção da cabine contra a invasão de contaminantes como poeira e água continua sendo um dos pontos fortes dos carros da Peugeot. Foi assim com o hatch 307 e com o crossover 3008 e se repete agora com o 208. Mantas e espumas espessas revestem o assoalho, o que ajuda também no isolamento sonoro. O contraponto da qualidade de equipamento foi o tampão retrátil do teto panorâmico, uma fonte de ruído do início ao fim do teste. Gasto à toa

Na quarta revisão, a rede Peugeot trocou as pastilhas, que de fato haviam chegado ao fim. Mas errou ao condenar também os discos. Resultado: gastamos R$ 392 sem necessidade. Câmbio em alta

Muitos motoristas reclamaram de trepidação nas arrancadas do 208, o que nos levou a imaginar que a embreagem havia chegado ao fim. Longe disso. O disco ainda estava com boa espessura do material de atrito, o que nos leva a imaginar que o material elástico perdeu sua máxima capacidade de gerar pressão. No mais, tudo em ordem: nada de vazamento nas coifas das homocinéticas nem sinais de desgaste nas engrenagens, garfos e luvas de engate do câmbio. Alimentação saudável

O índice de contaminação do corpo de borboleta, componente que regula a entrada da mistura de ar e combustível no sistema de admissão, estava compatível com a quilometragem. Com as velas de ignição também em bom estado, a luz da injeção não acendeu em nenhum momento do teste. Caixa forte
Auxiliada por um sistema elétrico capaz de proporcionar uma boa dose de leveza ao pequeno volante do 208, a caixa de direção se mostrou silenciosa e muito resistente. Sem folga axial ou nos terminais de direção, ela chegou ao desmonte em estado de nova. ATENÇÃO Morte anunciada
O coxim inferior, também chamado de coxim de torção, não fazia ruído nem transmitia vibrações para a carroceria em função da pequena trinca encontrada nele. Mas, com o uso, a tendência era de agravamento. Culpados e inocentes
Os retentores de válvulas cumpriram seu papel, assim como os anéis de compressão dos pistões, todos dentro das especificações. Logo, o elevado índice de contaminação das válvulas pode ser atribuído ao sistema de recirculação dos vapores de óleo. Corrobora essa tese a presença de lubrificante na galeria das válvulas de admissão, exatamente o ponto por onde passam os vapores. REPROVADO Fora de ação
A suspensão foi o único sistema reprovado no desmonte. Um amortecedor vazou e outro perdeu boa parte da pressão por problemas nos componentes internos. Na bandeja esquerda, mais uma falta grave: uma bucha severamente danificada. A suspensão é, definitivamente, o ponto fraco da Peugeot, ao menos a dos modelos avaliados no Longa Duração.

HISTÓRICO

PRINCIPAIS OCORRÊNCIAS

7677 km: tampa corrediça do teto panorâmico vibra e faz barulho
9618 km: Buzina com som rouco e abafado
28032 km: aparente perda de eficiência do ar-condicionado
34 196 km: Embreagem trepidando nas saídas
39 327 km: chiado nas pastilhas de freio

FOLHA CORRIDA

Preço de compra: R$ 41 920 (agosto/13)
Quilometragem total: 60 092 km
42 993 km – (71,5%) rodoviário
17 099 km – (28,5%) urbano
Consumo total: 6556,2 litros de etanol (R$ 13 114,23)
Consumo médio: 9,2 km/l

Revisões
10 000 km – R$ 220 (Paris-Alphaville)
20 000 km – R$ 390 (Alpes)
30 000 km – R$ 240 (Super France)
40 000 km – R$ 648 (Port Andreta)
50 000 km – R$ 408 (Paris-Morumbi)
Alinhamento, balanceamento e rodízio – R$ 689

Peças extras às revisões
discos e pastilhas de freio dianteiro, R$ 732

Custo por 1 000 km: R$ 273,60


FICHA TÉCNICA

Motor: dianteiro, transversal, 4 cil., 1 449 cm³, 8V, flex
Diâmetro x curso: 75 x 82 mm Taxa de compressão: 12,5:1
Potência: 93/89 cv a 5 500 rpm
Torque: 14,2/13,5 mkgf a 3 000 rpm
Câmbio: manual, 5 marchas, tração dianteira
Dimensões: comprimento, 396,6 cm; largura, 170,2 cm; altura, 147,2 cm; entre-eixos, 254,1 cm
Peso: 1 086 kg
Peso/potência: 11,7/12,2 kg/cv
Peso/torque: 76,5/80,4 kg/mkgf
Volumes: porta-malas, 285 litros; tanque, 55 litros
Suspensão: Dianteira: independente, Mcpherson Traseira: eixo rígido
Freios: disco sólido (dianteira), tambor (traseira)
Direção: elétrica
Pneus: 195/60 R15

VEREDICTO

Em outubro, quando fizemos a simulação de venda do carro, caiu a máxima de que francês tem desvalorição acima da média. Na rede, as ofertas (ainda que condicionadas à compra de um outro Peugeot) foram muito boas. Nosso 208 contraria outra má fama dos franceses: a do custo elevado de manutenção. Ele dá adeus ao Longa com um número só um pouco acima da média do segmento. A rede, apesar de ter mostrado alguma melhora, ainda carece de atenção da fábrica.

 


Maio de 2013. A concessionária Alpes faz uma entrega desastrosa do 208. O técnico disse que o primeiro abastecimento deveria completar o tanque e ser feito apenas com gasolina. Em seguida, reforçou que era obrigatória a realização da primeira revisão exclusivamente na Alpes. Mais tarde, contatamos o 0800 da Peugeot – que, claro, desmentiu tais […]

Fonte: 4 Rodas Longaduração
Categoria: Peugeot 208
Autor: Redação
Publicado em: 16 Dec 2014 12:00:45

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