O ano de 2014 foi agitado. A Copa do Mundo no Brasil, as eleições presidenciais e a economia claudicante desviaram um pouco a atenção das novidades do mercado de automóveis. E não foram poucas. A profusão de novidade, inclusive, evitou um resultado pior. A retração nas vendas veículos novos em relação a 2013 ficou em
“administráveis” 8,4% nos 11 primeiros mesmos do ano – e não deve sofrer reviravoltas neste mês de dezembro.
“Foram vários problemas: aumento dos juros, perda de confiança do consumidor, pressão inflacionária e menor disposição dos bancos em conceder crédito”, enumera Marcos Munhoz, vice-presidente da General Motors do Brasil. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores – Anfavea –, entre janeiro e novembro de 2014 foram emplacados 3,13 milhões de carros – no mesmo período do ano passado, foram registradas 3,41 milhões de unidades.
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Mas há ainda quem acredite em uma leve recuperação do mercado no apagar da luzes.
“Novembro registrou um dos melhores ritmos de vendas diárias do ano até agora, um sinal claro de que o consumidor continua ávido pela compra de veículos. A expectativa é de que este ritmo se mantenha ou até aumente em dezembro”, estima o otimista Luiz Moan, presidente da Anfavea. Moan acredita em dois fatores para esta possível reação: o 13° salário e a iminência da volta do Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI – aos patamares normais a partir de janeiro de 2015. Com a queda na comercialização, as fábricas tiveram que se adequar e a produção de automóveis retraiu 15,5%. Saíram das linhas de montagem no período 2,94 milhões de veículos – em 2013, o número era de 3,48 milhões.
Mas a maior mudança do ano no setor automotivo está se confirmando. A Fiat – mais precisamente sua linha Palio – está prestes a consolidar o posto de carro mais vendido do país, que há 27 anos pertence ao Volkswagen Gol. O modelo produzido em Betim, em Minas Gerais, é líder de mercado há seis meses consecutivos e, até novembro, acumulou 160.784 carros contra 159.207 – exatos 1.577 exemplares a mais. Os sinais de naufrágio do Gol começaram em fevereiro, com a saída do modelo G4 da linha e a queda nas vendas da casa de 21 mil unidades mensais para as cerca de 13 mil/mês atuais.
A aposta da marca alemã ao inserir o inédito Up! no mercado brasileiro em fevereiro era vender 12 mil unidades/mês e cobrir a saída do Gol G4. Mas não deu certo. O pequeno modelo chegou com boas credenciais: moderno, econômico e jovial. Mas o preço era pouco convidativo para o segmento de entrada e a receptividade deixou a desejar. Na média, o carrinho emplacou menos da metade do previsto.
Em 2014, o segmento de hatches compactos ainda viu um fenômeno surgir. O Ford Ka, idealizado e produzido em Camaçari, na Bahia, mas projetado como carro global – na verdade, para países emergentes – foi lançado em setembro e logo se firmou como um campeão de vendas. O compacto de entrada ressurgiu totalmente diferente daquele modelo carismático pelo qual ficou conhecido – com direito também a uma versão sedã. Com novo design, tecnologia e motores eficientes, o hatch baiano já chegou às 12 mil unidades vendidas em um mês.
“Estamos muito orgulhosos com o sucesso da nossa nova linha global e principalmente do Ka, que em apenas três meses já é o quarto carro mais vendido do mercado”, destacou Steven Armstrong, presidente da Ford América do Sul.
Os segmento de hatch compacto ainda recebeu o Nissan March nacional, o Renault Sandero totalmente remodelado e o Fiat Uno reestilizado, além de estrear o sistema start/stop – geralmente presente em carros mais sofisticados. Pouco antes do término de 2014, a Volkswagen atualizou a gama Fox – incluídos CrossFox e SpaceFox. Já a Honda lançou a nova geração do Fit, que já mostrou sucesso comercial ao vender mais que o antigo carro-chefe da fabricante japonesa, o Civic. A Kia
“elitizou” o Soul, que agora custa mais de R$ 90 mil. Em um patamar acima, o Mini chegou com visual e motores novos. Porém, não perdeu o
“ar” retrô.
Entre os médios, destaque para a nova geração do Toyota Corolla. Maior, com uma estética menos conservadora e agora com transmissão CVT, o sedã assumiu – com uma ligeira folga – a liderança do segmento de sedãs e deixou o Civic para trás. A Honda, por sua vez, decidiu mexer apenas nas versões de entrada e intermediária do seu três volumes. A Renault também deu um
“tapa” no seu representante: o Fluence. Modificação profunda mesmo ficou por conta do Honda City. Nas picapes, a Volkswagen se movimentou e lançou a Saveiro Cabine Dupla. Com capacidade de levar cinco passageiros, o modelo cresceu nas vendas. Mas nada que abalasse mais um ano de liderança da eterna rival Fiat Strada e suas três portas.
Crescendo de forma exponencial, o segmento de utilitários ganhou novos
“players” em 2014. Nos compactos, a Mercedes-Benz trouxe o GLA, o último membro da família A – depois do hatch Classe A e sedã CLA. Entre os médios, a Jeep começou a vender o novo Cherokee com sua dianteira
“exótica” e a BMW, no finzinho do ano, lançou o X4. A marca bávara, inclusive, teve um 2014 particularmente agitado. Deu início à sua produção nacional em Araquari, Santa Catarina, com o Série 3 Active Flex e logo em seguida com o X1. Sem muito alarde, a marca iniciou a importação de mais modelos como Série 2 e sua variante conversível, além do Série 4 – Gran Coupé e Convertible. Mas quem fez barulho – nem tanto assim por ser um carro elétrico – foi o i3. O carro ecologicamente correto chegou com preço salgado – mais de R$ 200 mil –, porém concentra todas as forças da fabricante no quesito mobilidade urbana do futuro. A compatriota Audi também não ficou para trás e trouxe mais integrantes da gama do A3: sedã – com motores turbinado 1.4 e 18 –, Cabrio, S3 e o utilitário esportivo RSQ3.
Na casta dos esportivos foram adicionados membros de peso. A Chevrolet começou a importar o famoso Camaro na variante conversível. A Suzuki trouxe ao Brasil o apimentado Swift Sport e a Fiat finalmente iniciou as vendas do
“nervosinho” 500 Abarth, de 147 cv. A Honda também recolocou o Civic Si de volta no país. Só que agora o esportivo é importado do Canadá, adota o estilo cupê e o motor é um 2.4 litros aspirado de 206 cv de potência. Sem querer saber de brincadeira, a Jaguar passou a comercializar a configuração cupê do aclamado F-Type – com preços exorbitantes, é claro.
Autor: Raphael Panaro (Auto Press) Muita ação, pouca reação - Ano repleto de lançamentos não evita recuo em vendas e produção de automóveis no Brasil