Teste do Renault Megane R.S.
A Renault é uma marca de múltiplas imagens. No Brasil, ao longo do tempo, a fabricante francesa perdeu a identidade de importada e conseguiu atingir o patamar de uma
“generalista”, com carros acessíveis e bom volume de vendas. Na Europa, a Renault tem uma presença mais esportiva. A empresa sediada em Boulogne-Billancourt, nos arredores de Paris, coleciona 35 anos de participação na Fórmula 1, a principal categoria do automobilismo mundial. Entre equipe própria e fornecimento de motores para diversas escuderias, a Renault obteve 11 títulos. Mas essa
“pegada” esportiva chegou ao Brasil somente ano passado por meio do Fluence GT, primeiro produto automotivo vendido por aqui com a marca da Renault Sport. Agora, a fabricante traça voos mais altos e faz planos para comercializar o
“nervoso” Mégane R.S, de 265 cv de potência.
Modificado pelo braço esportivo da Renault, o cupê ainda não teve a importação confirmada oficialmente para o Brasil, mas especulações dão conta que o carro chega em dezembro já com o face-lift europeu e preço acima dos R$ 120 mil. O Mégane R.S., inclusive, deu as caras por aqui ano passado para angariar possíveis interessados e mais recentemente surgiu no Salão Internacional do Automóvel de São Paulo, em outubro último. Atualmente, a Renault não usa a cota de 9.600 unidades que podem ser importadas fora do Mercosul com isenção dos exatos 30% de IPI. Esse seria mais um indício que a chegada do modelo estaria próxima. O carro atingiria um subnicho de esportivos – onde estão também Volkswagen Golf GTI e Honda Civic Si – na tentativa de
“beliscar” o mercado de modelos de marcas de luxo, como Audi, BMW e Mercedes-Benz. E se é uma imagem de prestígio que a Renault procura, o Mégane R.S. tem boas credenciais. É o atual detentor do recorde de volta mais rápida para carros de rua com tração dianteira no famoso circuito de Nürburgring, na Alemanha. Uma das justificativas para o Mégane R.S. ser considerado um
“hot hatch” reside sob o capô. São 265 cv a 5.500 rpm e 36,7 kgfm a 3 mil rpm de torque extraídos do motor 2.0 litro turbinado. O propulsor é o mesmo que equipava o Fluence GT por aqui, mas no cupê, pistões e virabrequim foram reforçados e o principal: a pressão do turbo foi elevada em 0,2, para 1,2 bar. Apesar da
“ajudinha” para gerar tal
“cavalagem”, o trem de força ainda é completado por um detalhe dos esportivos chamados puro-sangue. Traz uma transmissão manual com seis marchas. Este conjunto é capaz de tirar o Mégane R.S. da imobilidade e levá-lo até os 100 km/h em 6 segundos e à máxima de 255 km/h.
Tanto desempenho vem providencialmente acompanhado de muita segurança. Além de seis airbags, controles eletrônicos de tração e estabilidade, freios a disco ventilados com pinças da famosa marca italiana Brembo, a Renault ainda instalou um diferencial de escorregamento limitado no eixo dianteiro. O sistema consegue detectar a perda de aderência em uma das rodas e, automaticamente, transfere a força motriz para a outra roda no intuito de equalizar as velocidades diferentes e dar mais controle a quem está atrás do volante. O Mégane R.S. ainda traz dispositivos que facilitam a convivência com o motorista para um uso no dia a dia. O hatch vem com GPS integrado, sistema de som da grife Bose, rádio com Bluetooth, entrada USB, ar-condicionado digital dual zone e controle de cruzeiro. Afinal, entre uma acelerada e outra, sempre dá tempo de curtir o passeio.
Ponto a ponto
Desempenho – O Mégane R.S. deixa bem claro que é um carro da Renault Sport. O 2.0 litros turbinado de 265 cv mostra potência de sobra em qualquer faixa de giro. Os 36,7 kgfm de torque disponíveis integralmente a 3 mil giros adicionam ainda mais
“pimenta” ao cupê. O desempenho impressiona e qualquer saída de sinal pode ter muita emoção. O zero a 100 km/h em 6 segundos e a máxima de 255 km/h denotam bastante esportividade.
Nota 10.
Estabilidade – Com um esportivo, a suspensão privilegia um uso mais extremo onde possa aproveitar integralmente toda a potência e o bom torque. Nas curvas, o
“handling” do cupê impressiona, assim como a direção com respostas diretas. Em altas velocidades, o modelo também está sempre na mão do motorista. O aparato eletrônico ainda se faz presente para garantir que tudo ocorra das forma mais segura possível.
Nota 10.
Interatividade – Apesar de toda pompa de ser um esportivo, o Renault Mégane R.S. é um carro bem simples. Os comandos vitais estão bem localizados e o ar-condicionado digital, sistema de som e computador de bordo são de fácil manuseio. A transmissão manual de seis marchas tem engates curtos e o volante tem boa pegada. O único dispositivo em que o condutor pode perder um tempinho extra é o GPS. São muitos comandos, botões e um
“joystick” para procurar as letras na tela e digitar o endereço.
Nota 9.
Consumo – Como ainda não é comercializado no Brasil, o Renault Mégane R.S. não faz parte do Programa Brasileiro de Etiquetagem do InMetro. Mas durante a avaliação do cupê, o computador de bordo acusou um média de 8 km/l em ciclo misto. Nada mal para um motor com tal torque e potência.
Nota 6.
Conforto – O Mégane R.S. é um esportivo. Ou seja, a suspensão prioriza a performance dinâmica, e não o conforto. E ela cobra o preço no acidentado asfalto brasileiro. A rigidez do componente fazem os ocupantes
“sacolejarem” e sentir os desníveis e buracos na pista. Por outro lado, os bancos tem ótima ergonomia e bons apoios laterais. O isolamento acústico também é eficiente.
Nota 7.
Tecnologia – Os principais itens tecnológicos do Mégane R.S. tangem a segurança. São seis airbags, controles eletrônicos de estabilidade e tração, além do diferencial de escorregamento limitado. Outras conveniências incluem ar-condicionado dual zone, banco do motorista com ajustes elétricos, sistema de entretenimento e localização, e som premium provido pela Bose.
Nota 9.
Habitabilidade – Entrar e sair do cupê necessita uma pequena ginástica devido à baixa estatura do carro. Dentro, em um cupê não há milagres. Os ocupantes traseiros são os que mais sofrem. Primeiro pela falta de espaço para as pernas e, com a carroceria cupê, também não sobra muito para a cabeça. Andar atrás no hatch só se for em pequenos trajetos ou uma carona rápida. Na frente não há grandes problemas. O porta-malas ainda leva corretos 344 litros.
Nota 7.
Acabamento – O Mégane R.S. não conta com um acabamento primoroso. Mas é muito superior aos Renault vendidos por aqui. No painel, há a mistura de plásticos maleáveis e rígidos. A peça ainda conta com uma simulação de fibra de carbono com uma fina listra vermelha que vai do centro em direção ao lado do carona. A mesma cor também está presente nas costuras dos confortáveis bancos de couro, volante e na alavanca de câmbio.
Nota 8.
Design – As linhas do hatch cupê chamam atenção. O Mégane R.S. é largo, com para-choques robustos e baixo. No perfil, as rodas escurecidas de 19 polegadas calçadas em pneus 235/35 chamam atenção. Atrás, os grandes faróis, que avançam pelas laterais, o grande losango e o difusor com escapamento único central formam um belo conjunto. Na Europa, o carro já recebeu um face-lift que o deixou com os traços mais modernos e a identidade atual da Renault. E essa estética certamente será a do carro vendido no Brasil.
Nota 8.
Custo/benefício – Especula-se que o Megane R.S desembarque no mercado brasileiro com o preço entre R$ 120 mil e R$ 150 mil. Seus concorrentes por aqui seriam o Volkswagen Golf GTI e o Honda Civic Coupé. O hatch alemão parte dos R$ 102.680, mas pode ultrapassar a barreira dos R$ 140 mil com os opcionais. O GTI traz também um motor 2.0 litros turbo de 220 cv. Já o produto da marca japonesa, que vem importado do Canadá, é naturalmente aspirado e o propulsor de 2.4 litros produz 206 cv de potência. O preço chega perto dos R$ 120 mil. Exemplares premium alemães como BMW M235i, Mercedes A45 AMG e Audi S3 Sportaback custam mais de R$ 200 mil.
Nota 6.
Total – O Renault Mégane R.S.
somou 80 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Carroceria cupê, posição de dirigir quase sentada no assoalho, velocímetro com a máxima em 290 km/h, a inscrição Renault Sport no painel, transmissão manual, bancos esportivos e costuras vermelhas no volante. É assim que o Megane R.S recebe quem está prestes a
“domar” seus 265 cv. O ambiente instigante ainda perdura até pressionar o botão de partida. Nas ruas, a cor preta do modelo não chama tanta atenção quanto o tradicional amarelo da Renault Sport, mas o hatch consegue entortar os pescoços ao redor.
Sem ser
“provocado”, o Megane R.S se comporta como um carro
“normal”. Dá para usar o modelo em situações do dia a dia sem maior alarde – basta manter o comedimento na pressão ao pedal do acelerador. Porém, o problema é não
“desafiar” demais o carro. Isso porque 80% do torque já está disponível a 1.900 rotações. Ou seja, é muito fácil ser surpreendido pela força do
“hot hatch”. Ao afundar o pé direito no acelerador, o modelo responde de forma brutal. A turbina sopra ar para dentro, o velocímetro sobe exponencialmente, as mãos agarram o volante com firmeza e o corpo cola no banco. Tudo isso ainda é acompanhado pelo grave ruído do motor que é emitido a cada troca de marcha. A transmissão manual faz o condutor se sentir parte integrante do carro, interagindo todas as reações e nuances do veículo. Tanto desempenho vem acompanhado de uma enorme capacidade dinâmica. O hatch mostra um impressionante equilíbrio nas curvas, com rolagem nula da carroceria e uma agilidade que nada deixa a desejar. As típicas saídas de frente de carros com tração dianteira são praticamente eliminadas no Megane R.S. com a ação do diferencial de escorregamento limitado. As mudanças de direção também são bastante rápidas e os freios a disco ventilados com pinças Brembo estão lá para garantir ainda mais segurança. Algo que, com tanto torque e potência à disposição, é sempre tranquilizador.
Ficha técnica
Renault Mégane R.S.
Motor: A gasolina, dianteiro, transversal, 1.998 cm³, com quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, comando duplo de válvulas no cabeçote, comando de válvulas variável na admissão e turbocompressor. Acelerador eletrônico e injeção eletrônica multiponto sequencial.
Transmissão: Câmbio manual de seis marchas à frente e uma a ré com diferencial de escorregamento limitado. Tração dianteira. Oferece controle de tração.
Potência máxima: 265 cv a 5.500 rpm.
Aceleração 0-100 km/h: 6,0 segundos.
Velocidade máxima: 255 km/h.
Torque máximo: 36,7 e kgfm entre 3 mil e 5 mil rpm.
Diâmetro e curso: 82,7 mm X 93,0 mm.
Taxa de compressão: 8,6:1.
Suspensão: Dianteira do tipo McPherson com braço inferior retangular, manga-de-eixo independente e barra estabilizadora. Traseira por eixo de torção com barra estabilizadora e molas helicoidais. Oferece controle de estabilidade.
Freios: Discos ventilados na frente e atrás. Oferece ABS com EBD.
Pneus: 235/35 R19.
Carroceria: Hatch em monobloco com duas portas e cinco lugares. Com 4,29 metros de comprimento, 1,85 metro de largura, 1,43 metro de altura e 2,63 metros de entre-eixos. Oferece airbags frontais, laterais e de cortina.
Peso: 1.387 kg.
Capacidade do porta-malas: 344 litros.
Tanque de combustível: 60 litros.
Produção: Palencia, Espanha.
Itens de série: Airbags frontais, laterais e de cortina, controles de tração e estabilidade, botão de partida, monitor central com telemetria, ar-condicionado dual zone, rádio/GPS/Bluetooth, cruise control, computador de bordo, direção elétrica, trio elétrico e diferencial de escorregamento limitado.
Preço estimado no Brasil: entre R$ 120 mil e R$ 150 mil.
Autor: Raphael Panaro (Auto Press)
Fotos: Jorge Rodrigues Jorge/Carta Z Notícias Lado negro da força - Com 265 cv, Mégane R.S. exibe toda a esportividade e a sofisticação da Renault