8 de jul. de 2014

Papo de roda - Quem não chora, não mama

Papo de roda - Quem não chora, não mama

Nos EUA, rola uma ação indenizatória contra a GM para compensar a perda de valor no mercado de usados

Milhões de automóveis da GM foram equipados nos EUA com uma trava da chave de ignição com a lingueta 1,6 mm mais curta que o especificado. Este quase imperceptível defeito foi suficiente, entretanto, para permitir a chave girar sozinha em algumas situações (motorista esbarrar, chaveiro pesado dependurado), desligar o motor e provocar acidentes. Dezenas ocorreram, alguns fatais. E com um agravante: os air bags  não se abriam pois a chave estava desligada e os sistemas eletrônicos inoperantes.

O defeito foi percebido há cerca de dez anos, mas a GM não fez o recall. Entretanto, houve registro de 13 mortes e, além da ignição, outros problemas graves eclodiram.  A empresa, encurralada, decidiu agora anunciar o recall e mais 43 outros envolvendo mais de vinte milhões de veículos.

No Brasil, o comportamento das montadoras mudou da água para o vinho depois que o código de defesa do consumidor passou a exigir o recall. Se a fábrica não o faz, o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC-Ministério da Justiça) exige, desde que comprovado o problema. Mas já teve pelo menos um caso em que a GM Brasil adotou a mesma condenável política da matriz e não fez recall para substituir pneus (Pirelli) do Vectra. Foi em 2009, na base do “quem não chora não mama”, pois somente os carros levados à concessionária com o pneu danificado tinham o jogo substituído gratuitamente. Confissão de culpa da GM, mas que deixou tudo por isso mesmo e a conta para o bolso do freguês.

Recentemente, a GM se viu novamente às voltas com problemas no Vectra. Incêndios em muitos deles queimaram e mataram ocupantes. A fábrica argumenta que o fogo não teve origem no mesmo lugar em cada carro, o que a isentaria de responsabilidade e até da possibilidade de um tardio recall. A questão está na Justiça.

O cidadão brasileiro vai, passo a passo, fazendo valer seus direitos, mas longe de ser respeitado como no Primeiro Mundo. Nos EUA, a General Motors está novamente acuada, desta vez por uma inédita ação judicial movida por um cliente que pede indenização pela perda de valor de seu automóvel. Ele alega que os inúmeros recalls (e a falta deles) macularam a imagem da marca e fez cair o valor dos usados no mercado.  Uma equipe de advogados assumiu a causa e a ação pode superar  U$ 10 bilhões, pois mais de quinze milhões de clientes teriam prejuízo estimado entre U$ 500 e U$2.600 na cotação de seus veículos.

No Brasil, onde a morosidade da Justiça leva anos até para obrigar as montadoras a indenizar dono de automóvel com comprovado defeito de fabricação, uma ação indenizatória para compensar prejuízo no valor do carro usado, iria contemplar os tataranetos de seu autor...


Publicado em: 2014-07-04T13:51:00-03:00
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