Os sedãs à venda no Brasil têm de responder a exigências bem definidas. Estas qualidades geralmente são exaltadas na publicidade em textos que remetem à ideia de conforto, luxo e status. Os adjetivos até são justificados em grande parte dos automóveis do segmento, mas há uns poucos modelos que extrapolam a singeleza dessas descrições. O Audi S3 sedã é um deles. Apesar dos conceitos o definirem muito bem, não são suficientes para traduzi-lo. O modelo alemão insere uma generosa dose de
“pimenta” no conjunto, que inclui 280 cv de potência, 38,7 kgfm de torque, tração integral e transmissão automatizada de dupla embreagem de seis marchas.
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O S3 sedã desembarcou no Brasil em agosto, sete meses depois do três volumes
“convencional”. Com o sucesso dessa configuração de carroceria na gama A3, a Audi logo tratou de trazer a variante mais
“quente”. E, pelo menos no design, manteve toda a elegância do original. O S3 não tem aparência
“vitaminada”, porém as linhas evidenciam sua natureza dinâmica, com um porte atlético e uma forte identidade visual. Na frente, a grade é no estilo
“bocão” – presente em todos os modelos Sport –, que vai do capô até a base do para-choque. Ela traz uma moldura cromada e é cortada por sete barras duplas com aparência de alumínio. Nas extremidades do para-choque, as entradas de ar para os freios recebem um acabamento tipo colmeia. O capô liso e o arco do teto achatado alongam visualmente a carroceria. Atrás, um sutil defletor cria um detalhe estético no alto da tampa do porta-malas. O para-choque redesenhado traz na base um extrator cor de chumbo com moldura dupla em alumínio e incorpora as quatro ponteiras ovaladas e cromada do escape. Apesar da estética comportada, o S3 abriga uma
“fera” sob o capô. Os 280 cv aparecem entre 5.500 e 6.200 rpm – no Brasil, a Audi
“estrangulou” este 2.0 turbo, que rende 20 cv a menos que na Europa. Já o torque de 38,7 kgfm aparece pleno entre 1.800 e 5 mil giros. A pressão do turbo vai a 1,2 bar e o duplo sistema de injeção de combustível ajuda a equalizar o trabalho do propulsor. Sob solicitação parcial, a injeção indireta melhora a queima e reduz o consumo e as emissões de partículas. Já a injeção direta – chamada FSI – entra em ação na partida e em situações de alta exigência do motor.
A força gerada pelo propulsor é distruibuída pelas quatro rodas por meio da conhecida tração integral Quattro. Já a transmissão é automatizada de seis marchas e duas embreagens. Com esse conjunto, o modelo é
“catapultado” aos 100 km/h partindo da imobilidade em 4,9 segundos. Já a
“ferocidade” máxima é controlada pela eletrônica em 250 km/h – opcionalmente pode ser ampliado para 280 km/h. O carro também traz o sistema Audi Drive Select, que controla o funcionamento do acelerador, da direção assistida e do câmbio. O motorista pode optar entre os modos Comfort, Auto, Dynamic, Efficiency e Individual ao toque de um botão. O interior é sofisticado, totalmente preto com insertos em alumínio escovado fosco e acabamento em alumínio polido. O volante esportivo multifuncional tem base reta e é forrado em couro. Já os pedais e apoio de pé são em aço inoxidável escovado. O cluster do S3 é semelhante ao do A3 normal, com pequenas alterações que dão personalidade à versão. Os relógios trazem números e ponteiros brancos. O velocímetro marca até 300 km/h e o contagiros apresenta um logotipo S3 em relevo, juntamente com o mostrador de pressão do turbo. Entre eles, uma pequena tela TFT faz a interface com computador de bordo, GPS, som, etc.
Todas as qualidades do modelo alemão desembocam em um preço bem salgado: R$ 215.990 – R$ 3 mil a mais que o S3 hatch. No valor, estão embutidos teto solar panorâmico elétrico, ar-condicionado automático bizona, sistema start/stop, bancos dianteiros esportivos em couro ajustáveis eletricamente, faróis de xenônio, rodas de 18 polegadas e central multimídia com tela retrátil e GPS integrado. Além das pinturas metálicas ou perolizadas, a Audi oferece como opcional, por R$ 41.500, um sistema de som da dinamarquesa Bang & Olufsen, com 13 alto-falantes e um subwoofer de 705 watts. Mas uma prosaica câmara de ré ou botão de partida, itens disponíveis em carros (bem) mais baratos, são recursos que a Audi não se preocupou em disponibilizar no seu esportivo.
Ponto a ponto
Desempenho – O motor 2.0 TFSI de 280 cv de potência e 38,7 kgfm de torque tem disposição de sobra. Em conjunto com a trasmissão S-tronic de seis marchas e duas embreagens, é capaz de se tornar uma fonte de adrenalina para os ocupantes. As acelerações e retomadas são fortes e progressivas. A prova está nos números: zero a 100 km/h em 4,9 segundos e velocidade máxima
“freada” pela eletrônica em 250 km/h.
Nota 10.
Estabilidade – O três volumes esportivo gruda no asfalto. O conjunto suspensivo rígido impede a carroceria de rolar e dá um comportamento exemplar ao carro. A tração integral também ajuda ao aliviar a sensação de torque no volante, comum aos modelos de tração dianteira, e dá bastante equilíbrio ao carro. A suspensão trabalha bem e impede que a carroceria role, com total controle das reações do carro. O acerto mais firme passa muita segurança em velocidades mais elevadas, com pouquíssima flutuação.
Nota 9.
Interatividade – O volante multifuncional de base reta tem uma ótima pegada e os (poucos) comandos estão bem localizados. A posição baixa de condução é amplamente ajustada pelos controles do banco e também do volante. O painel de instrumentos é bem completo, com destaque para o pequeno mostrador da pressão do turbo, que acende
“luzinhas” brancas conforme a solicitação do acelerador. A falta de câmara de ré não se justifica em um modelo de mais de R$ 200 mil.
Nota 8.
Consumo – O Audi S3 sedã não está no Programa Brasileiro de Etiquetagem do InMetro. Mas com todas as tecnologias para diminuir o consumo de combustível, o sedã esportivo, durante a avaliação, registrou uma média de 8,9 km/l em circuito misto. Não é um número para se orgulhar, ainda mais quando se trata de um propulsor apenas a gasolina.
Nota 6.
Conforto – O sedã vai bem nesse sentido. Os bancos são macios e ao mesmo tempo que passam uma gigantesca esportividade, o condutor e o passageiro desfrutam de bons espaços. O acerto firme da suspensão que pode
“pegar” em alguns momentos, como ruas esburacadas e quebra-molas. Mas nada que impeça dirigir o modelo por muitas horas ou no uso diário. O isolamento acústico impressiona positivamente.
Nota 8.
Tecnologia – O S3 sedã é feito sobre a nova plataforma MQB, do Grupo Volkswagen. O motor 2.0 litros TSFI tem injeção de combustível direta e indireta. O modelo ainda traz faróis de xenônio, ar-condicionado dual zone, sistema start/stop, tração integral, teto solar elétrico, câmbio de dupla embreagem e sistema multimídia. Tudo moderno mas nada fora da curva do segmento.
Nota 9.
Habitabilidade – Apesar do evocar o lado esportivo, o S3 é um sedã. E tem características de tal. Duas pessoas viajam tranquilamente na parte de trás e o porta-malas aceita 390 litros – volume que não impressiona. O porta-copos logo em frente à alavanca de câmbio serve também para descansar objetos de uso pessoal, como chave, carteira e celular. O caimento do teto
“rouba” alguns centímetros de espaço para a cabeça de quem vai atrás.
Nota 8.
Acabamento – Apesar do preço vitaminado pela esportividade, o S3 é um A3 sedã. Ou seja, os materiais usados no habitáculo seguem os conceitos de sedãs de entrada de marcas de luxo: encaixes das peças e revestimentos de boa qualidade, mas sem extremo requinte. O revestimento em couro e os detalhes de personalização da versão dão sofisticação ao interior. Tudo na medida certa e sem exageros.
Nota 8.
Design – O S3 sedã é um esportivo sem
“anabolizantes” visuais. O design não transparece as aptidões dinâmicas do sedã. A grade característica dos carros Sport da Audi e as quatro saídas de escapamento são os destaques. O perfil é marcado por um grande vinco na lateral, o caimento do teto em direção à traseira e pelas rodas de 18 polegadas com cinco raios. Tudo bem harmônico.
Nota 9.
Custo/benefício – A esportividade do S3 sedã tem preço. E ele é alto: R$ 215.990. Com o sistema de som premium Bang & Olufsen e pintura metálica/perolizada, a conta pode chegar aos R$ 260 mil. Não há um rival direto entre as marcas de luxo. O mais próximo é o Mercedes-Benz CLA45 AMG, que custa R$ 298.900 mas tem muito mais potência – 360 cv. Já BMW M3 ultrapassa os dois, tanto em preço quanto em cavalagem: R$ 394.950 e 431 cv. Quem se aproxima do S3 sedã em preço e desempenho é o Mitsubishi Lancer Evolution X, que custa R$ 220.990 e traz um 2.0 litros turbo de 295 cv e 37,1 kgfm de torque.
Nota 6.
Total – O Audi S3 sedã
somou 81 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Mesmo que o Audi S3 tenha um visual discreto, impossível não notar que se trata de um produto da linhagem S. Ao todo, são 9 logos
“S3” distribuídos no carro: grade, tampa traseira, soleiras das portas dianteiras, volante, contagiros, encostos dos bancos dianteiros e alavanca de câmbio. Para todo lugar que se olhe, o condutor é
“avisado” de que o S3 não é um sedã comum. E isso fica bem claro quando o pedal da direita – pivotado no assoalho – é esmagado. O S3 dispara feito um rojão. O motor 2.0 TFSI de 280 cv e 38,7 kgfm faz o leva a cumprir o zero a 100 km/h em menos de 5 segundos e atingir a máxima de 250 km/h – limitada eletronicamente. Porém, mais que o fetichismo dos números, o S3 é um modelo que aguça os sentidos. O carro responde instantaneamente aos comandos do motorista – o sistema de dupla injeção praticamente elimina o
“turbo lag” –, o câmbio de seis marchas com paddle shifts no volante e duas embreagens executa as trocas com perfeição e o ponteiro do velocímetro sobe rapidamente. Tudo ainda é acompanhado por um agradável
“pipoco” no escapamento a cada mudança de marcha. Em frações de segundo, a coluna do condutor é pressionada contra o banco e as mãos instintivamente
“colam” e transpiram no volante esportivo forrado brilhantemente em couro.
O três volumes esportivo
“engole” as curvas com facilidade – graças à tração integral – e os pneus parecem
“ventosas” ao grudar no asfalto. A sensação – e também realidade – é que não falta equilíbrio e força em nenhum momento. A qualidade construtiva também contribui para esse sentimento. O Audi S3 sedã usa a plataforma MQB do Grupo Volkswagen – a do Golf, por exemplo –, que abusa de alumínio e aços de alta tensão. O resultado dessa receita é um peso abaixo de 1,5 toneladas e um comportamento bastante explosivo. O S3 sedã ainda é capaz de mostrar a outra faceta de ser um carro para o dia a dia. A estética não é espalhafatosa e, quando não instigado, o sedã é um veículo bem suave. A posição de dirigir é baixa, mas o corpo se ajusta bem aos bancos e ao volante. O habitáculo é minimalista e oferece poucos botões – todos nos devidos lugares. A suspensão esportiva torna o S3 sedã 2,5 cm mais baixo que o A3
“civil” e, mesmo em modo Comfort, pode transmitir algumas trepidações aos passageiros nas esburacadas ruas brasileiras. Mas nada que ofusque a sua esplêndida dinâmica.
Ficha técnica
Audi S3 sedã
Motor: Gasolina, dianteiro, transversal, 1.984 cm³, quatro cilindros em linha e quatro válvulas por cilindro. Injeção direta e indireta de combustível, turbocompressor e comando variável de válvulas. Acelerador eletrônico.
Transmissão: Automatizada de dupla embreagem com seis marchas à frente e uma a ré. Tração integral com controle antipatinagem.
Potência máxima: 280 cv entre 5.500 e 6.200 rpm.
Torque máximo: 38,7 kgfm entre 1.800 e 5 mil rpm.
Aceleração de 0 a 100 km/h: 4,9 segundos.
Velocidade máxima: 250 km/h (limitada eletronicamente).
Diâmetro e curso: 82,5 mm x 92,8 mm.
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson com barra estabilizadora. Traseira multilink com barra estabilizadora. Amortecedores de rigidez variável Oferece controle eletrônico de estabilidade.
Pneus: 225/40 R18.
Freios: Discos ventilados na frente e atrás, com ABS e EBD de série.
Carroceria: Sedã em monobloco, com quatro portas e cinco lugares. 4,47 metros de comprimento, 1,79 m de largura, 1,39 m de altura e 2,63 m de entre-eixos. Oferece airbags frontais e laterais.
Peso bruto: 1.460 kg.
Capacidade do porta-malas: 390 litros.
Tanque de combustível: 55 litros.
Produção: Gyor, Hungria.
Lançamento mundial: 2013.
Lançamento no Brasil: 2014.
Itens de série: rádio multimídia com sistema de navegação, Bluetooth, bancos dianteiros esportivos em couro ajustáveis eletricamente, volante esportivo multifuncional em couro com shift-paddles, ar-condicionado digital automático de duas zonas e teto solar panorâmico, airbags frontais para motorista e passageiro, airbag de joelho para o motorista e airbags laterais dianteiros de cabeça, controle de pressão de pneus, faróis bi-xênonio, sensor de estacionamento traseiro e sistema start/stop.
Preço: R$ 215.990.
Autor: Raphael Panaro (Auto Press)
Fotos: Jorge Rodrigues Jorge/Carta Z Notícias Melhor de três - Audi S3 conjuga o conforto de um sedã, o desempenho de um esportivo e a dinâmica de um hatch